ERA VARGAS: O BLOCO OPERÁRIO E CAMPONÊS NA REVOLUÇÃO DE 1930
- Veronica Marques da Costa
- 24 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de set. de 2022
Por Bruno Henrique de Souza; Pedro Henrique Leonel Zanini (graduandos em História - Unioeste)
A revolução de 1930 é um processo importante para a história do Brasil e marca a nossa memória enquanto um movimento formado pelas elites de estados como o Rio grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba e que também contou com a participação de tenentes do exército que foram contrários à continuidade das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais na presidência. Para além dessa construção de memória histórica dos vencedores deste embate político, há sujeitos de extrema importância nesse movimento e que foram apagados pela história oficial.
Apesar da revolução de 1930 ser um marco, o processo que leva até esse momento começa ainda na década de 1920, com diversos movimentos e atores políticos, como o movimento tenentista e a coluna Prestes, e que só se torna processo revolucionário em 1928. Dentro de uma diversidade de grupos, destaca-se o Bloco Operário e Camponês (BOC) e sua perspectiva sobre a revolução democrático-burguesa de 1930.
O movimento revolucionário se desenvolve a partir de 1928 porque vários grupos políticos que reivindicavam a revolução tinham um acordo básico: lutar contra a oligarquia e ter Prestes como líder da oposição. Além disso, é nesse ano que o BOC se expande para várias partes do país, inclusive em São Paulo, local central das disputas da revolução de 1930. Este acordo reunia os setores descontentes da classe dominante que eram representados pelo Partido democrático; os setores médios da sociedade, como os tenentes; e a classe trabalhadora organizada no Bloco Operário Camponês. No entanto isso não significa que dentro de um mesmo grupo não havia discordâncias e disputas, isto ocorre, por exemplo, com o Grupo de Prestes que têm mais de uma formulação sobre o processo revolucionário.

O Bloco Operário e Camponês foi uma organização formada por trabalhadores e camponeses que surgiu em 1927, na qual o Partido Comunista do Brasil (PCB) – que hoje é o Partido Comunista Brasileiro – atuava. Recentes no cenário político dos anos 1920, o partido comunista do Brasil já havia sido colocado na ilegalidade em 1923, mas continuavam atuando na clandestinidade na organização dos trabalhadores, sendo que a criação do BOC foi uma maneira de disputar as eleições.
No projeto político do BOC a ideia de uma revolução democrático-burguesa era central para equilibrar as posições no contexto da luta de classes. Num regime democrático, os trabalhadores seriam reconhecidos como cidadãos com direitos. Deixariam, assim de ser marginalizados como criminosos. Os posicionamentos do BOC e sua leitura sobre a realidade eram divulgados pelo Jornal: “O Combate”. O BOC apoiava o Partido Democrático porque acreditava que os trabalhadores teriam direito e liberdade para poder se organizar e lutar por melhores condições de vida sem a ameaça constante de serem presos por isto.
Porém o BOC, ainda em 1928, passa a se distanciar do projeto da revolução democrático burguesa, pois começa a se movimentar em direção a uma maior reivindicação dos direitos dos trabalhadores, para além da luta contra as oligarquias. Em 1929, com os feitos de uma greve de mais de 70 dias em São Paulo e a organização de uma Confederação Geral do Trabalho com mais de 60 mil operários sindicalizados, O Bloco Operário e Camponês passa a ser um incômodo muito grande para o governo oligárquico e para a oposição que almejava o poder. Depois de uma greve de gráficos em 1929, o jornal “O combate” retira o espaço do BOC de suas páginas; também neste momento o discurso contra os trabalhadores e contra o comunismo passa a ganhar mais força no partido Democrático e em outras organizações.
Com a intensificação das divergências e dos ataques ao BOC, a organização decide lançar uma candidatura própria de Minervino de Oliveira para as eleições de 1930, tendo como vice o ferroviário Gastão Valentim Antunes. MINERVINO DE OLIVEIRA SE TORNA O PRIMEIRO OPERÁRIO NEGRO A PARTICIPAR DA DISPUTA PRESIDENCIAL DO BRASIL!

Minervino teve uma votação pouco significativa, em decorrência também da repressão que impedia que o BOC organizasse atividades de campanha, inclusive Minervino de Oliveira foi preso pelo menos duas vezes, uma em Ribeirão Preto (SP), quando presidia a realização de um congresso de trabalhadores agrícolas, e outra no bairro carioca de Bangu. Com a vitória do movimento revolucionário de outubro de 1930, que levou Vargas ao poder após sua derrota nas urnas, Minervino voltou a ser preso por mais algumas vezes.
As atividades do BOC são encerradas em 1930 após uma nova orientação vinda da Internacional Comunista, que afetava diretamente a política do Partido Comunista.
[1] Propaganda da campanha eleitoral do Bloco Operário e Camponês.
[2] Periódico A Classe Operária, nº 18 25/08/1928. Disponível em https://bndigital.bn.gov.br/artigos/a-classe-operaria/.
[3]DECCA, Edgar de. 1930: O silêncio dos vencidos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.