O ILUMINISMO E A ARTE: A PINTURA DE GOYA
Por Giulia Beatriz Plassmann (graduanda em História - Unioeste)
De acordo com Todorov, a pintura para Francisco Goya não era mero divertimento: a imagem revela um pensamento por meio do qual apresenta uma reflexão sobre o mundo e os homens. Goya filosofou sobre seu tempo e a expressou por meio de sua arte.
O que percebemos ao apreciar sua obra são as entranhas e o horror daquilo que ele viu e viveu, e acima de tudo, sobre o sentiu: medo, temor, indignação, incompreensão, compaixão. Goya acompanhou boa parte de acontecimentos marcantes da História do século XVIII e do começo do XIX, desde o ambiente intelectual do pensamento Iluminista, do qual era um entusiasta e defensor, até as ações tardias da Inquisição espanhola, que retratou em muitas de seus desenhos, testemunhos de toda insensatez e violência daquela instituição.
Também foi contemporâneo da Revolução Francesa e da ocupação da Espanha pelo exército de Napoleão Bonaparte sobre a qual pintou a famosa série “os desastres da Guerra”.
Nesta série demonstra, com riqueza de detalhes a brutalidade da guerra e sua falta de sentido: tão devastadora ela é, que liberta os monstros mais cruéis que habitam a humanidade e, em meio ao caos, se esquece seu motivo ou fim, resta apenas violência e morte. Mesmo nas pinturas que fazia sob encomenda, ele não deixava de lado suas críticas pessoais ao tempo e sociedade que vivia. Nas figuras da realeza podemos perceber sua ambição e soberba, e ao mesmo tempo, algo de caricatural e grotesco.
Como forma de denúncia às superstições de sua época Goya pintou o obscuro, o pesadelo e o noturno: bruxas, demônios, monstros, seres sinistros do imaginário popular e católico. As bruxas são representadas como velhas, corcunda
s, narigudas, em pacto com o demônio, comendo criancinhas e cozinhando pessoas. Fiel ao imaginário popular e cristão da Espanha da época o objetivo dessas obras talvez seja justamente chocar as pessoas que as observam, mostrando o absurdo de se acreditar em tal fantasia macabra, afim de reerguer um ideal já ultrapassado naquele momento de caça às bruxas.
Uma de suas obras mais populares representa Saturno devorando sua cria. “É a sociedade eliminando seus excluídos”, Goya quer demonstrar que a “A prisão é uma máquina de triturar o humano.” Que a sociedade é cruel e que exclui e tritura as pessoas que não se encaixam por algum motivo.
Goya foi um dos mais peculiares artistas de sua época e é isso que o torna tão especial: suas pinturas não se encaixam em nenhum movimento artístico. Utilizava-se de formas e linhas, mas as negava, defendendo que a arte deveria aproximar-se o máximo possível da natureza, ou seja, da luz e sombra. O pintor ainda acreditava que não deveriam existir regras para a pintura. Para Goya o estudo de técnicas de pintura era um verdadeiro obstáculo para um jovem artista, pois o reprimia e o moldava aniquilando sua autonomia e originalidade. Isso talvez tenha a ver com a sua adesão ao pensamento iluminista, cujo ponto de partida é a crítica à autoridade mantida pela tradição, sob todas as suas formas. Os iluministas garantem sua legitimidade a partir da autonomia da observação imparcial do mundo e do raciocínio lógico. Os iluministas, assim como Goya, denunciavam preconceitos, superstições, ignorância contra os quais invocam a ciência e o conhecimento: Pois o sono da razão produz monstros.
Referências Bibliográficas:
TODOROV, Tzvetan. Goya, à sombra das luzes. Companhia das Letras, 2014.