RESISTÊNCIAS NEGRAS NO BRASIL COLONIAL
Atualizado: 24 de set de 2022
Por Cristhian Mensch; Daniela Henrichsen e Vanessa Evangelista Rocha (graduandos em História - Unioeste)
Em resposta às políticas de domínios de escravos, os africanos organizaram-se de diferentes maneiras para colocar limites à violência na qual eram submetidos. Pois, como nos mostra a historiografia, onde existiu escravidão também houve formas de resistência.
Resistências negras no Brasil: Fugas de rompimento e Quilombos
Ainda que a formação econômica e social da América Portuguesa tenha sido sustentada em um regime escravista, seria um erro pensar que este sistema tenha se desenvolvido sem que os africanos, trazidos como escravos, não tivessem esboçado formas de contestação a condição de vida que lhes era forçada.
Uma das formas de resistência à escravidão eram as fugas. Elas foram uma das estratégias mais utilizadas pelos sujeitos escravizados como forma de resistir à sua condição. Algumas vezes elas ocorriam ainda dentro dos navios negreiros, quando os africanos dominados pelo medo da travessia oceânica e pelo medo do futuro que lhes aguardava na América, optavam por se atirar no mar.
Uma vez já desembarcados na América portuguesa, e mesmo já vendidos, os escravos ainda tentavam empreender fugas. Segundo a historiografia, havia dois tipos de fugas: a reivindicatória e a de rompimento. Nas fugas de rompimento os escravos fugiam para regiões afastadas das fazendas ou das vilas, geralmente para regiões de mata fechada. O objetivo dessas fugas era romper de uma vez por todas com a dominação. Assim os escravos fugitivos procuravam se estabelecer em locais onde eles pudessem viver livres e praticar a sua cultura de origem. Esta forma de fuga deu origem aos primeiros quilombos que ao longo dos anos se espalharam em todo o território na América Portuguesa. Os quilombos se tornaram uma das principais formas de resistência da população negra no Brasil até o final do século XIX e ainda hoje existem e resistem em diversas comunidades quilombolas remanescentes em nosso país.
Um dos quilombos mais famosos é o de Palmares, que no século XVII se encontrava na Serra da Barriga dentro da capitania de Pernambuco e que nos dias de hoje fica no território do interior de Alagoas. A fama de Palmares se explica por várias razões: foi o quilombo mais duradouro da época do Brasil Colônia, tendo resistido durante todo o século XVII. Outra razão da importância de Palmares é que no seu apogeu ele pode ter sido habitado por até 30 mil pessoas, distribuídas em várias aldeias, descritas como bem fortificadas, estruturadas e administradas. As evidencias da magnitude de Palmares se deve aos relatos deixados pelas diversas expedições enviadas pelos administradores portugueses e holandeses de Pernambuco para destruir o quilombo. Embora cada aldeia possuísse um líder específico, todos respondiam em obediência a um líder maior. Ao longo da sua existência Palmares teve diferentes líderes, verdadeiros reis segundo alguns historiadores, sendo o mais famoso deles Zumbi, hoje símbolo do movimento negro brasileiro.
Resistências Negras no Brasil: Fugas reivindicatórias
O outro tipo de fuga, elencada pelos historiadores eram as fugas reivindicatórias que diferente das fugas de rompimento, tinham como objetivo principal negociar com seus senhores alguns limites à escravidão, como por exemplo, a conquista de um dia da semana para folgarem e cuidar dos seus roçados. Para conseguir abrir um espaço de negociação, os escravos fugiam para os arredores dos engenhos de açúcar até que seus senhores aceitassem negociar suas reinvindicações. Um exemplo de fuga reivindicatória ocorreu no Engenho de Santana de Ilhéus, um dos maiores da Bahia no final do século XVIII, com aproximadamente 300 escravos. Em 1789, os escravos se rebelaram contra as condições de trabalho, fugiram e refugiaram-se na mata próxima ao engenho. A fuga paralisou a produção que só retornou após o senhor do engenho, Manuel da Silva Ferreira, aceitar as reivindicações dos escravos que iam desde folgas nos fins de semana até a escolha dos feitores que deveriam ser aceitos pelo escravos.
Revoltas armadas: A Revolta dos Malês
Além das fugas e dos quilombos, os escravos também organizaram revoltas armadas para reivindicarem sua liberdade ou com vista a melhorar sua condição de vida. A exemplo elencamos a revolta que ocorreu na Bahia, no contexto da Independência do Brasil de Portugal, quando tropas formadas exclusivamente por negros, muitos deles escravos, auxiliaram na expulsão dos portugueses de Salvador. Esses sujeitos lutaram em troca da promessa da conquista da alforria, isto é, da sua liberdade após a guerra. Ainda em Salvador, alguns anos mais tarde da Independência, outro episódio marcante de rebelião escrava foi a Revolta dos Malês, considerada a maior revolta escrava no Brasil. O nome dado a revolta se deve pela maior parte dos envolvidos serem negros Malês oriundos da região da atual Nigéria e professarem o islamismo.
[1] O castigo. Ilustração de Jean Baptiste Debret publicada na coletânea sob o título Voyage Pittoresque et Historique au Brésil (Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil). 1834 e 1839,
[2] Anúncio de jornal de escravo fugitivo, 1845.
[3] Selo comemorativo do Quilombo dos Palmares. Emissão Departamento de Filatelia e Produtos/ECT. 19/11/2012.
[4] Habitação de negros. Ilustração de Johann Moritz Rugendas. Publicada no álbum Voyage Pittoresque (Viagem Pitoresca). 1822 e 1825
[5] REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: A Historia do Levante dos Males em 1835. Editora Brasiliense, 1986.
[6] REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociações e Conflito; a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.